[Rubedo é uma palavra em latim que significa avermelhado. Foi adotada pelos alquimistas para designar o quarto e último estado da alquimia: a iluminação.]
"Rubem: Significa “eis aqui um filho”, "aqui está o filho". Tem origem no hebraico Reubhén, formado a partir dos elementos reu, imperfeito do verbo ra'ah, que quer dizer “ele viu” e ben, que significa “filho”
Rubem acordou cedo demais. Não só naquele dia, no qual podia se ouvir o silêncio da rua, mas na vida mesmo.
Desde o começo, Rubem gostava de se dizer assim, um fã inveterado da verdade nua e crua, um caçador de fantasmas que se resumem ao estalar da madeira de casas velhas, um desmistificador de papais noéis. Quer dizer, ele nunca sequer acreditara no bom velhinho. Quando criança - cresceu com o tio avô, aprendeu que o Natal é uma época boa para o comércio, para comer e só.
Não gostava de coisas infantis. Nascera sério, talvez com quarenta e dois anos de idade. Nasceu já vencendo e resistindo, pois teve o cordão umbilical enrolado ao pescoço. A mãe não sobreviveu ao parto. Hoje, biologicamente aos sessenta e sete, acordou cedo, mais cedo do que o necessário.
Fez um café preto e tomou sem açúcar - precisava - estava obeso e a beira de um colapso nervoso.
Olhou pela janela e de lá avistou o rabo de cavalo ruivo balançando a cada trotada. A vizinha, professora de yoga, thetahealer e massoterapeuta costumava acordar cedo para a corrida matinal.
Debochava dela, de tudo que ela fazia, das sacolas ecológicas ao cheiro de incenso. Debochava e a desejava ardentemente.
Sendo um homem dos fatos e da razão, sabia que nada poderia fazer para acariciar aquelas costas tatuadas. Seu corpo não responderia.
A contragosto e com a desculpa do colapso de nervos e problemas cardíacos, marcou sua sessão particular de “auto-ajuda gourmet”.
E qual não foi sua surpresa quando descobriu que não haveriam toques naquela massagem, apenas olhos fechados e mãos estendidas. Entediou-se. A sala lilás, a maca branca, o som de sinos ao longe, o cheiro de almíscar e sândalo, a “transmissão de energia”, que seja, algo o transportou ao sono.
Do azul escuro do seu mar interno, sentiu a remota sensação de uma corda que o sufocava. Pensou: “é o fim.”
Tudo em volta se fez luz e uma mulher alva lhe estendeu os braços amorosos. Ali, desmanchado em lágrimas, abraçou a mãe, que morreu parindo. Ali foi filho e muito amado.
Rubem deu o último suspiro sem que a moça da Yoga pudesse fazer nada. Era um velho safado, diriam. Morreu de emoção. Era um empresário impiedoso. Foi um sentimental.
Rubem “se fez”, fez fortuna do nada. Trabalhou sem cessar. Sentia falta de mãe.