segunda-feira, 2 de novembro de 2009

pés sujos

não tem mistério, nem tristeza. apenas uma fonte clara e uns pés descalços.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Para Snoopy

Embora eu tivesse poucos lugares para onde ir,
Até cada lugar caminhei bastante
Acumulei tanta coisa
E a seguinte sabedoria sobre o amor de todas as coisas:
Primeiro o amor me apareceu
Tão companheiro e constante
Que dele aprendi logo:
Era jóia bonita, mas não era jóia minha
Depois ele me apareceu
Exigindo mergulhar no mar
Com direito a maremoto e calmaria,
No meio de tanta incerteza, para enfim achar
E aprender que era pérola,
Rara, do fundo,
Mas também não era minha.
O seu me aparece agora
Com um filete de ouro verdadeiro
Transformando em jóia até o que é besteira da infância
E se é ocasião
De você me dar a mão
Rio da incerteza da vida
E fico companheira e constante
E já não importa se a jóia é minha
Pois tudo brilha
E do amor aprendi a amar

um final otimista

eu tenho uma doença.
não sei o nome dela,
não é sangue, mas é dor,
que explode em todos os cantos
e me deixa lenta
e me deixa fraca
e põe o coração pra fora

já não tenho mais força pra lidar
com o passarinho que me escapa

mas deixo uma janela aberta
caso ele queira pousar

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O seu amor

O seu amor me contenta
O seu amor alimenta
O seu amor me sustenta
O seu amor me acalma
O seu amor me aumenta

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Sobre ser Cordélia na vida ou outro ponto de vista.

Nossos sentimentos são verdadeiros, firmes feito rochas.

ainda assim os aduladores e ajoelhados,
as exaltadas e histéricas,
risonhos, risonhas
continuam usurpando nosso lugar.

aí entra a questão:
jogamos as rochas neles
ou erguemos muralha?

haverá terceira opção?

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Sobre a vida V

E essa é muito importante.

Sempre me passei de cozinheira, mas duas experiências ruins me chocaram e marcaram profundamente.

Foram:

Ovo podre.

e...

Waffles.


Ovo podre, convenhamos, é sempre horrível. Pra qualquer pessoa. Por isso jamais confie em ovos meio azulados comprados na bodega da esquina e, quando estiver fazendo uma receita, quebre o ovo num recipiente separado, e não dentro da massa que você já tinha começado.

Agora os waffles. Os aparentemente fáceis, deliciosos e inocentes waffles. Jamais confie em receitas de waffles. Ou nas máquinas de waffles. Os cuidados básicos de untar, colocar pouca massa e seguir os próprios instintos, basicamente, também valem para os waffles. Por mais que a máquina diga que é antiaderente e que a receita diga que não tem erro.


Segue uma foto de como não ficou a aparência dos meus waffles:

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Quem diria, Maria

Hoje é só mais um dia
E a borboleta que nasceu ontem
A essas horas já voou de verdade

Quem diria, Maria
Que a melancolia está na lagarta
E que ser borboleta
é ilusão de liberdade



Achei num blog meu antigo e tou apenas repostando.
Ainda faz sentido

quinta-feira, 30 de julho de 2009

O tempo passa, o tempo voa.

E Andrea Doria continua Andrea Doria e me faz chorar.


(andrea doria - legião urbana)

Às vezes parecia
Que de tanto acreditar
Em tudo que achávamos
Tão certo

Teríamos o mundo inteiro
E até um pouco mais
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços
De vidro

Mas percebo agora
Que o teu sorriso
Vem diferente
Quase parecendo te ferir

Não queria te ver assim
Quero a tua força
Como era antes
O que tens é só teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada

Às vezes parecia
Que era só improvisar
E o mundo então seria
Um livro aberto

Até chegar o dia
Em que tentamos ter demais
Vendendo fácil
O que não tinha preço

Eu sei é tudo sem sentido
Quero ter alguém
Com quem conversar
Alguém que depois
Não use o que eu disse
Contra mim

Nada mais vai me ferir
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada
Que eu segui
E com a minha própria lei

Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais
Como sei que tens também

terça-feira, 28 de julho de 2009

Eu quebrei a estátua de dragão.

Compramos uma bonita estátua de dragão. Vermelho, escamas com um tom de dourado, asas abertas, boca aberta, língua para fora, em cima da pedra. O dragão estava se apresentando, sem medo nenhum, desafiando a nós, pobres mortais. Garras afiadas e curvas.
Pois compramos. Éramos recém-casados. Eu achei que ficaria bem na sala de estar, na última prateleira.
Quando meu marido saía, eu notava como o dragão parecia estar me observando. Um dia jurei que tinha visto que a sua língua balançava como uma serpente. A princípio, não me importei. Coisa da minha cabeça.
Quando meu marido chegava, a vigília cessava.
...
Aconteceu que meu marido teve que viajar. À noite, sozinha, abri uma garrafa de vinho. O apartamento estava completamente em silêncio.
Um silvo violento quebrou a paz de tudo. Corri do nosso quarto para a sala: o dragão agora batia as asas. Me olhava. Bafo quente saía das suas narinas, infestava o ar. Fiquei tonta com o calor. Eu suava.

Joguei a estátua no chão. Um líquido transparente saiu das entranhas do bicho: eu não toquei, pois sabia que era veneno. Varri os restos. Levantei uma tábua no chão e o sepultei. Naquele dia, dormi tranquila.

No dia seguinte, porém, sonhei com o dragão. Eu montava nas suas costas e viajávamos, conhecendo as maravilhas do mundo. Em outro sonho, ele derretia gelo com seu bafo, pois eu tinha sede. No último encontro em sonho, eu era o dragão, o dragão era eu, e nós nos possuíamos.

Meu marido voltou pra casa e não me perguntou nada. Apenas olhou o lugar vazio e voltou a ler o seu jornal.
Fui eu que vi nos seus olhos a acusação.
Fui eu que novamente senti que a sala estava quente, muito quente, ardendo de um jeito que derreteria a nós todos, humanos.
Levantei a tábua.
Então eu gritei.

- FUI EU, FUI EU QUE QUEBREI O MALDITO DRAGÃO. AQUI ESTÁ, VEJA O ESQUELETO DELE, FUI EU. EU, SOZINHA, MATEI O MALDITO DRAGÃO.

Da minha voz saíam serpentes de fogo.

domingo, 26 de julho de 2009

Carta para outra

Uma carta pra outra que eu nem sei se gosta de carta.
Vai ser curta.

Só queria dizer que eu sempre enxerguei a sua dor. E tentei respeitar. A vida ensina que cada um tem a sua, então eu que não podia me infrigir uma nova dor, só pra você deixar de sentir aquela que sentia...
Naquele dia, eu ri, mas jamais seria de você. Acho que a razão de tudo em você parecer ainda duvidoso é que não tem nada inteiro ainda. É que seu espírito é levinho e é difícil pro meu acompanhar. E a razão do meu riso é sem razão.
Conselho de amiga: tenho a minha dor e aprendi com ela. Aprenda com a sua. Sabe o jeito que ela se apresenta? Como ela vem e pra onde ela vai? Pois preste atenção, que o provável é que aí more o segredo de você finalmente ser quem você é. Quando isso acontecer, espero que continue leve.

Uma carta pra ela

Ela gostava tanto de escrever carta, que eu acho que eu vou escrever uma carta pra ela.

Minha cara,
todo dia de manhã quando eu acordo, saúdo o sol, agradeço pela vida, lavo o rosto, olho bem nos meus olhos de pessoa cansada - além das olheiras há um quê de cansaço de tudo - aí então, penso nas possibilidades daquele dia. Quase sempre não tem nada. Mas é engraçado:eu acho tudo muito engraçado. Não sei, mora uma alegria dentro de mim. Não sei se a alegria em mim é a mesma alegria dos olhos da menina de suéter azul, cuja alegria tinha um ar de morte. Talvez agora minha alegria more onde estava o desespero dela.
Cortando esse papo, querida, o que eu queria mesmo dizer é que ter paciência e esperar é sempre um conselho bom, principalmente quando a gente se impressiona justamente porque enxerga as possibilidades de tudo.
Até quando a gente já esperou demais e foi tantas vezes urgente um toque ou uma palavra.
Até quando a gente se pergunta se agora ainda é muito cedo ou se vão ou não vão, pela primeira vez, deixar a gente ter aquilo que queria.

domingo, 19 de julho de 2009

Pensou, com seriedade, fitando os olhos daquele homem que se cobria de delicadezas:


- as pessoas são
o que são.


E falou:

-Olha, não é porque eu sou um passarinho que você precisa me tratar assim, desse jeito, meio delicado, meio falso.

saiu voando.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

tema batido

Chamava-se Júlia, pois estamos em julho e esse parece um bom nome.
Tinha dezoito anos quando adormeceu. Um dia normal: chegou do cursinho e, como estava cansada, dormiu cedo. Nem trocou de roupa ou escovou os dentes. Dormiu com a roupa suada, apostilas na cama. A imagem do cansaço.
Quando acordou, tinha vinte e nove anos. Ao seu lado, um estranho. Costas peludas. Um tanto quanto repugnante.
Olhando-se no espelho, deu-se conta: uma ruga! Na beiradinha da boca. Algo de ruguez se pronunciava também perto dos olhos. Espere. Não só isso: nariz, olhos e boca... Tudo diferente. O cabelo. Cacheado?! E uma cor, castanho dourado com as raízes pretas.
Não. Não era ela. Era outra. O quarto, o barulho do ar condicionado. Um motel barato. Unhas pintadas de um vermelho berrante. O homem levantou-se, abraçou-a e perguntou
-O que foi, Rosa Ângela, não vai ao banco hoje? Te deixo lá.
Aliança no dedo gordo do homem.
Obedeceu. Foi ao banco. Viu que era bom: bastava obedecer.
....
Do outro lado da cidade, uma mulher chamada Rosa Ângela recém Júlia acordava cansada. Mas tinha uma vida nova toda pela frente.


Eu não sei porque eu tô chorando.

Mas é por que
por quê
ou porquê

terça-feira, 7 de julho de 2009

Teço uma colcha:
Nela coloco as coisas bonitas do passado
Em algum e outro canto
os pontos ficaram meio soltos
Aperto
Aqui no presente
Fito o futuro
Imagino que coisas bordarei
Se ficar só de apertar os pontos
Nunca que eu vou poder me cobrir
Continuo tecendo

terça-feira, 30 de junho de 2009

"botei a coleira nela - ela ficou tão alegre.
mas nem podia andar."
É muita solidão. Ali sozinha. Barulho no telhado, serão passos? E o que é que dá? É Medo? É um frio. É muita solidão.
O quarto é escuro – não vejo bem. Ando tateando a escuridão. Tropeço em coisas que não sei o nome. Sinto-nas. Pressinto que forma elas têm. Porém não as posso tocar... Muito menos posso vê-las. Sei que estão lá e isso já é bastante ruim.
Nesses momentos é que eu queria uma mão. Uma mão amiga, mão masculina, paternal. Me guiando e me levando desse quarto escuro.
Aí quando saísse desse quarto, luz inundando nossos olhos, eu o veria claramente. Para ele não seria surpresa – ele já teria me visto. Pois havíamos nos encontrado em sonho, num estranho joguete do destino.
Mas não. Hoje sei que devo ficar aqui, nesse quarto e nesse frio. Pegar em cada objeto, senti-los, quem sabe até prová-los e entendê-los. Quando me perguntarem eu direi: isso se chama Alfredo, isso se chama Cordélia...
Então verei a luz. Entrando por debaixo da porta, lenta e fraquinha.

sábado, 27 de junho de 2009

Amor, o sol e música numa musiquinha de comercial.

Aqui.



Someone is there, waiting for my song
I´m only looking for someone who sings along
when all my dreams, finally reach yours
we will uprise and maybe find our true love
we will uprise and maybe find our true love

But soon enough the sun will come out and shine
We'll both be better with a clearer view and mind
We'll look back on the day it almost slipped away
And laugh and wonder why we'd thought that way

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Você que ainda não me apareceu,
Tenho certeza que vai gostar de olhar o mar.
Disse que eu podia seguir. Eu já estava andando. Disse antes que ia se agarrar na minha crina. Mas meus cabelos já estavam presos. Que eu mesma tinha prendido. Não é como se alguém pudesse me colocar rédeas. As rédeas coloco eu. Faço as regras. Obedeça. Condene-se. Ou só me acompanhe, ei, tome, tome aqui um doce. Se não, vá embora. Aponto as falhas, pior que navalha. Afiada, um punhal.



Agora uma brincadeirinha:

Já que você me provocou, agora experimenta.
Senta que é de menta, senta que é de menta.
Será que você aguenta?

quarta-feira, 24 de junho de 2009

I'm seeing someone.




"Aventureiro, escritor e apresentador de TV, Bear Grylls cresceu na ilha de Wight, onde começou a escalar com seu pai quando ainda era criança.Serviu nos serviços aéreos especiais da Força Britânica, e enquanto desempenhava sua função sofreu um grave acidente ao saltar de pára-quedas sobre o sul da África.
Apesar do acidente, tornou-se o mais jovem alpinista britânico a chega ao cume do Monte Everest e regressar com vida. Grylls registrou esta experiência no livro “Facing Up”.
Também liderou a primeira travessia sem auxílio em um barco inflável nas frias águas do Atlântico Norte. O feito inspirou o livro “Facing the Frozen Ocean” , e ele foi premiado pela Marinha Real Britânica."




Escolhi pra namorado.
Acho que depois de ter passado por isso tudo, ele deve ser capaz de encarar.
Love me tender, love me true, Bear.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Sobre a vida IV

Essa é do orkut:

Sorte de hoje:
Não faz sentido dividir as pessoas em boas e más. Pessoas são apenas encantadoras ou monótonas

segunda-feira, 22 de junho de 2009


não,
não é uma escolha.
em parte.
acredito nela.
aceito,
acolho,
integro com outras partes,
me implico.
sou eu,
sou outros.
não,
racional, em parte,
pois a sinto.
Pois contaram uma história pra mim,
de uma menina que gostava de dar risada.
Quando ela ria, o sorriso era uma florzinha branca.


continuando a história,
fizeram uma maldade com a menina,
seu coração, que nada sabia, quase morreu
mas resistiu,
porém ficou pesado.


o tempo foi passando, e a menina pesando.
restava a florzinha.
a última notícia que tive dela foi que,
tendo colocado tudo pra fora,
em forma de palavra,
de lágrima,
de riso e sangue,
a menina virou um passarinho
seu vôo tinha um tom de dourado,
enquanto celebrava a vida
cortando o céu.

Sobre a vida III

Essa é do Jung, um meu cumpade,


"A plenitude da vida tem normas e não as tem, é racional e irracional. "

domingo, 21 de junho de 2009

Sobre a vida II

Não dá pra confiar em gente feliz.
Mais uma vez me feri
Não lembro onde,
Acho que nem vi.
Vejo o corte
E só agora sinto que arde
Sinto o cheiro de sangue
E não entendo.

sábado, 20 de junho de 2009

Sobre a vida I

A vida não é feita de escolhas.
não é.

àquele que me cura

Acho estranho, porém apropriado, que você, agora, tenha também uma música:

Partners - Cássia Eller.

Eu pensei
Em tanto pra dizer
Enquanto esperei
Por esse blues, por essa luz
Esse solo,
Esse som,
No colo de Deus (e no seu)

Morri de saudades
Desse momento
Andei tão sozinho
Por tanto tempo
Por tanto tempo só

Eu nem sei
Se devo confessar
Um certo segredo
Uma vontade que dá
De repente
Um rap, um repente
Acorde cordel
Que cai do céu

Morri de saudades
Desse momento
Andei tão sozinho, tão só
Por tanto tempo


Obrigada.

Meu barquinho

O barco vagava vagaroso
Em seu destino, nada além desse mar
As ondas batiam devagar
O vento soprava devagar
As velas eram tão preguiçosas...
que, às vezes,
o barco parava
e morria um pouquinho.


*mas a morte é sempre um renascer
na história do matreiro barquinho

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Recomendação

Aos curiosos
Aos intrometidos
Aos que nunca foram convidados
Cuidado, muito cuidado

Para se manter em segurança
Mantenha distância:
dos meus irmãos de alma,
dos meus irmãos de sangue,
e das feridas
que não cicatrizaram ainda
que nem sei se cicatrizam.

Não fique remexendo
Nem ache bonito
O que nunca foi de ser seu.

Porque o destrambelho
dos desavisados
É querer que eu, sendo fogo e sendo água,
seja terra.
a minha escrita é a minha flor e a minha faca.

terça-feira, 16 de junho de 2009

As coisas que eu precisava te dizer.

Estava ela na sua janela. Um sem número de pensamentos assombravam sua casa. Ela sabia que - sozinha- conseguiria exorcizar todos eles. Mas eis que veio aquela figura estranha. E, como sempre, o que é estranho sempre a interessou muito. Então deixou que ele visse as rachaduras da casa. Um pouco dos seus fantasmas. Assim, de graça, deu também beleza e encantamento. Porque, afinal, falamos de uma casa assombrada, mas bela.

Mesmo com tanto aviso: porque ela disse. muitas vezes. Cuidado com a casa, que é assombrada. Cuidado pra não barroar nas coisas. Tem muita coisa aí que é de vidro, cai, quebra e se acaba. Principalmente, cuidado com os fantasmas.
Mesmo com tanto aviso ele resolveu entrar.
Trazendo uns fantasmas dele. E umas coisas de vidro.
Bem. Os fantasmas dele não se deram com os fantasmas dela. Os vidros se quebraram todos.

Como aquele bonsai que morreu, parece que as raízes dele tinham fungos. Ele não faz questão de olhar pra eles. Vou logo avisando: se não se tiram os fungos, o bonsai morre... não adianta água, sol, podar, não adianta nada. Muito, muito estranhamente, para quem gosta de espelho, ele teima em não se olhar de frente. E repele tanto o que suja... E eu digo, como também diz aquela propaganda do Omo: se sujar faz bem.

Pois muito bem. Que encontre um lugar seguro. Uma casa em tons pastéis.

shelter, shelter, shelter

Gimme Shelter.

Oh, a storm is threatning
My very life today
If I dont get some shelter
Oh yeah, Im gonna fade away

War, children, its just a shot away
Its just a shot away

Ooh, see the fire is sweepin
Our very street today
Burns like a red coal carpet
Mad bull lost its way


Rape, murder!
Its just a shot away

The floods is threatning
My very life today
Gimme, gimme shelter
Or Im gonna fade away

domingo, 14 de junho de 2009

Há lugar

Aqui estou, oficialmente limpa:


Lavei o cabelo duas vezes, usei um sabonete novo e esfoliei a pele. passei um óleo com cheiro de menta. Só estou para mim mesma. Verterei com delicadeza e sem pressa um chá de camomila. Assim limparei minha alma.

Deixo-me aqui quieta e sei que um dia me curo.
Quando estiver tudo calmo, tudo claro,
Anunciarei, então, finalmente

que há local na minha mesa.
há lugar na minha poesia.
e novas músicas vão me embalar.

sábado, 13 de junho de 2009

Teodoro

Poeminha

Falo pouco,
Sentido, faço menos ainda.
Mas ouço sons
e leio poemas
Que traduzem a ternura mais funda
do meu peito.
Reutilizei,
por exemplo, o verbo
Te adorar. De Bandeira.
Intransigente:
Teadoroteodoro.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

la solitudine

cada vez mais sozinha

quarta-feira, 10 de junho de 2009

De 2000 ou 2001, da vocação e da falta de colo

Mais uma raridade:
(postei para um amigo no Msn e estou colando aqui)

Manuely (F) diz (09:29):
*As pessoas passam. Elas andam mas elas esquecem da menina de suéter azul e do olhar de morte. A menina do suéter azul e olhar de morte está bem no meio dos pedestres. Um preto gordo passa e olha, uma velha magra passa e olha, a madame passa e olha. Mas ninguém vê a menina de suéter azul e olhar de morte.Ninguém quer ver, mas ela está em todo lugar. A morte nos olhos da menina transmitem alegria. Ela prova suja o suéter com sorvete de pistache. A menina se sente invisível, saem os mariscos, saem os cachorros. A menina desce a ladeira e grita bem alto. Grita, grita e grita. O que se sabe bem é que a menina não sabe que ninguém consegue escutá-la. Tudo isso por causa do medo que os pedestres sentem da verdade.
*na outra página é que tem
*"Nunca deduza o que ainda não deduziram"

Manuely (F) diz (09:30):
*acho q minha vocação pra ser psicoterapeuta meio q ja gritava desde esse tempo aí :P
Golbery diz (09:32):
*A menina de sueter azul só queria colo.
*Faltou essa frase no texto.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Retrato em Branco e Preto

Composição: Chico Buarque

Já conheço os passos dessa estrada
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cor
Já conheço as pedras do caminho,
E sei também que ali sozinho,
Eu vou ficar tanto pior
E o que é que eu posso contra o encanto,
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto e que, no entanto,
Volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos tristes, velhos fatos,
Que num álbum de retratos
Eu teimo em colecionar

Lá vou eu de novo como um tolo,
Procurar o desconsolo,
Que cansei de conhecer
Novos dias tristes, noites claras,
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever
Pra lhe dizer que isso é pecado,
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado e você sabe a razão
Vou colecionar mais um soneto,
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração



quinta-feira, 4 de junho de 2009

Algo que jamais se esclareceu -
Onde foi, exatamente,
que larguei naquele dia mesmo o leão que sempre cavalguei?
Lá mesmo esqueci
que o destino sempre me quis só
no deserto, sem saudade, sem remorso, só,
sem amarras, barco embriagado ao mar

(Inverno - Adriana Calcanhoto)

quarta-feira, 3 de junho de 2009

amanhecendo

Um dia me disseram que os meus olhos eram de chuva e que a minha boca era de lua. Que os meus dentes eram leitosos e que os meus pensamentos eram uma noite confusa, sem sentido e sem fim.
Então eu criei um olhar grave.
Mas deixa, deixa que um dia eu vou me curar das minhas marcas. Deixa que quando for verão, eu mesma vou fazer sol. Vou estar maior que a montanha. Consertadas minhas asas, vou voar no infinito.

Talvez, talvez, só talvez,
Se você for digno,
Eu te leve comigo.

sábado, 30 de maio de 2009

O Que Me Importa

Marisa Monte

Composição: Cury

O que me importa
Seu carinho agora
Se é muito tarde
Para amar você...

O que me importa
Se você me adora
Se já não há razão
Pra lhe querer...

O que me importa
Ver você sofrer assim
Se quando eu lhe quis
Você nem mesmo soube dar
Amor!...

O que me importa
Ver você chorando
Se tantas vezes
Eu chorei também...

O que me importa
Sua voz chamando
Se pra você jamais
Eu fui alguém...

O que me importa
Essa tristeza em seu olhar
Se o meu olhar tem mais
Tristezas pra chorar
Que o seu...

O que me importa
Ver você tão triste
Se triste fui
E você nem ligou...

O que me importa
Seu carinho agora
Se, para mim,
a vida terminou...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Estranho adj. (Lat. extraneus). 1. Contrário ao uso, ao normal ou ao esperado. 2. Incomum, insólito, extraordinário. 3. Exterior, estrangeiro, externo. 4. Desconhecido, misterioso. 5. Que não tem nenhuma relação como o assunto ou tema; alheio. 6. s.m. Indivíduo estrangeiro. 7. s.m. Pessoa que não conhecemos. 8. s.m. Aquilo que se estranha.

Exs.:

Joana usava termos estranhos, era difícil entendê-la. (4)
O comportamento dele era muito estranho. (2)

Sinônimos: Estrangeiro, Forasteiro, Alienígena, Desconhecido, Misterioso, Obscuro, Desusado, Insólito, Anormal, Externo, Exterior, Esquisito, Extravagante, Exótico

Antônimos: Nativo, Conhecido, Costumeiro, Interno, Normal.

Ser de sagitário - Adriana Calcanhoto
Péricles Cavalcanti

Você metade gente
e metade cavalo
Durante o fim do ano
cruza o planetário

Cavalga elegância
Cabeça em pé de guerra mansa
Nas mãos arco e flecha
Meu coração
Aguarda e acompanha
seu itinerário
Até o fim do ano
ser de sagitário

Você metade gente
e metade cavalo
This land is mine.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

uns acham brega,

outros acham batido,
outros acham lindo,

eu acho que é bom não esquecer:

E foi então que apareceu a raposa.
__ Bom dia - disse a raposa.
__ Bom dia - respondeu educadamente o pequeno príncipe, que , olhando a sua volta, nada viu.
__ Eu estou aqui - disse a voz, debaixo da macieira...
__ Quem és tu? - perguntou o principezinho. __ Tu es bem bonita...
__ Sou uma raposa - disse a raposa.
__ Vem brincar comigo - propôs ele. __ Estou tão triste...
__ Eu não posso brincar contigo - disse a raposa. __ Não me cativaram ainda.
__ Ah! desculpa - disse o principezinho.
Mas após refletir, acrescentou:
__ O que quer dizer "cativar"?
__ Tu não és daqui - disse a raposa. __ Que procuras?
__ Procuro homens - disse o pequeno príncipe. __ Que quer dizer "cativar"?
__ Os homens - disse a raposa - têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?
__ Não - disse o príncipe. __ Eu procuro amigos. __ Que quer dizer "cativar"?
__ É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. __ Significa "criar laços"...
__ Criar laços?
__ Exatamente - disse a raposa. __ Tu não és nada para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E Não tenho necessidade de ti. E tu também não tem necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. Eu serei para ti única no mundo...
__ Começo a compreender - disse o pequeno príncipe. __ Existe uma flôr... eu creio que ela me cativou...
__ É possível - disse a raposa. __ Vê-se tanta coisa na Terra...
__ Oh! não foi na Terra - disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
__ Num outro planeta?
__ Sim.
__ Há caçadores nesse outro planeta?
__ Não.
__ Que bom! E galinhas?
__ Também não
__ Nada é perfeito - suspirou a raposa.
Mas a raposa retornou a seu raciocínio.
__ Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens também. E isso me incomoda um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo... A raposa calou-se e observou por muito tempo o príncipe:
__ Por favor... cativa-me! -disse ela.
__ Eu até gostaria -disse o principezinho -, mas não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
__ A gente só conhece bem as coisas que cativou -disse a raposa. __ Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
__ O que é preciso fazer? -perguntou o pequeno príncipe.
__ É preciso ser paciente -respondeu a raposa. __ Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. E te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás um pouco mais perto...
No dia seguinte o príncipe voltou.
__ Teria sido melhor se voltasses à mesma hora -disse a raposa. __ Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz! Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coração... É preciso que haja um ritual.
__ Que é um "ritual"? -perguntou o principezinho.
__ É uma coisa muito esquecida também -disse a raposa. __ É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, adoram um ritual. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira é então o dia maravilhoso! Vou passear até à vinha. Se os caçadores dançassem em qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu nunca teria férias!
Assim o pequeno príncipe cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
__ Ah! Eu vou chorar.
__ A culpa é tua -disse o principezinho. __ Eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
__ Quis -disse a raposa.
__ Mas tu vais chorar! -disse ele.
__ Vou - disse a raposa.
__ Então não terás ganho nada!
__ Terei, sim - disse a raposa __ por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
__ Vai rever as rosas. Assim, compreenderá que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te presentearei com um segredo.
O pequeno príncipe foi rever as rosas:
__ Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativaste ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu a tornei minha amiga. Agora ela é única no mundo.
E as rosas ficaram desapontadas.
__ Sóis belas, mas vazias -continuou ele. __Não se pode morrer por vós. Um passante qualquer sem dúvida pensaria que a minha rosa se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mas importante que todas vós, pois foi ela quem eu reguei. Foi ela quem pus sob a redoma. Foi ela quem abriguei com o pára-vento. Foi nela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi ela quem eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. Já que ela é a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
__ Adeus... -disse ele.
__ Adeus -disse a raposa. __ Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
__ O essencial é invisível aos olhos -repetiu o principezinho, para não esquecer.
__ Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante.
__ Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... -repetiu ele, para não esquecer.
__ Os homens esqueceram essa verdade -disse ainda a raposa. __ Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa...
__ Eu sou responsável pela minha rosa... -repetiu o principezinho, para não esquecer.



(Antoine de Saint-Exupéry - O Pequeno príncipe)

terça-feira, 26 de maio de 2009

lady lazarus

fragmento do poema de Sylvia Plath

   ...
Comeback in broad day

To the same place, the same face, the same brute
Amused shout:

'A miracle!'
That knocks me out.
There is a charge

For the eyeing of my scars, there is a charge
For the hearing of my heart----
It really goes.

And there is a charge, a very large charge
For a word or a touch
Or a bit of blood

domingo, 24 de maio de 2009

outra definição do que é amor,

If I pour your cup, that is friendship
If I add your milk, that is manners
If I stop there, claiming ignorance of taste,
That is tea

But if I measure the sugar
To satisfy your expectant tongue
Then that is love.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Minha casa vai ter muitos objetos delicados, umas artes meio orientais. uns quadros que eu mesma vou pintar. um bom som, um bom aparelho de dvd, uma boa televisão, com canais a cabo.
vai ter um piano de parede. talvez um piano digital, pra que eu possa colocar fones de ouvido e não incomodar os outros. mas preferencialmente um piano de parede.
quero paz de espírito na minha casa.


vai ter almofadas e pufes. um divã.
quero conforto na minha casa.


vai ter um gato e um cachorro.
quero equilíbrio na minha casa.


antes de entrar na minha casa, você vai precisar tirar os sapatos. quero uma mesa redonda, nada de mesa retangular ou quadrada. quero que todos possam se ver, quando sentarem à mesa pra experimentarem de qualquer coisa que eu tenha decidido fazer na cozinha.

para minha casa vou levar aquele mesmo quadro que eu tenho desde que tinha1 ano de idade. O da menina com o passáro na janela. Vou levar também a réplica do "moça com brinco de pérola", que tia Fátima prometeu que ia trazer e ainda não trouxe.

vou levar minha máquina de escrever.

quero uma bonita estante de madeira, com porta com vidro pra colocar meus livros. todos devidamente marcados com o ex libris que eu ainda vou imprimir.

as paredes vão ser claras, mas vou colocar objetos coloridos, pra que eles saltem aos olhos. mesmo dos mais desavisados.


...

quero que esteja comigo alguém que possa me entender. quero que esse alguém traga suas próprias coisas, sua própria história, suas coleções de não-sei-o-quê. mas que entenda a mim e entenda minha casa. vamos dividindo o espaço, e aos poucos a casa vai sendo dele e aos poucos.. eu também vou sendo sua.

de.li.ca.de.za 3

"As pessoas delicadas são aquelas que a cada idéia ou gosto juntam muitas idéias ou muitos gostos acessórios. As pessoas grosseiras apenas têm uma sensação; a sua alma não sabe compor nem descompor; não juntam nem retiram nada ao que a natureza fornece: ao passo que as pessoas delicadas no amor criam elas próprias a maior parte dos prazeres do amor. Polixena e Apicio trouxeram para a mesa bastantes sensações desconhecidas aos nossos vulgares manjares; e aqueles que julgam o gosto das obras do espírito possuem e produzem uma infinidade de sensações que os outros homens não possuem."

Baron de Montesquieu, in 'Ensaio Sobre o Gosto'



É,
desejo delicadeza pra você ;)

de.li.ca.de.za 2

"Não, não ofereço perigo algum: sou quieta como folha de outono esquecida entre as páginas de um livro, definida e clara como o jarro com a bacia de ágata no canto do quarto - se tomada com cuidado, verto água límpida sobre as mãos para que se possa refrescar o rosto, mas se tocada por dedos bruscos num segundo me estilhaço em cacos, me esfarelo em poeira dourada. Tenho pensado se não guardarei indisfarçáveis remendos das muitas quedas, dos muitos toques, embora sempre os tenha evitado aprendi que minhas delicadezas nem sempre são suficientes para despertar a suavidade alheia, e mesmo assim insisto - meus gestos e palavras são magrinhos como eu, e tão morenos que, esboçados à sombra, mal se destacam do escuro, quase imperceptível me movo, meus passos são inaudíveis feito pisasse sempre sobre tapetes, impressentida, mãos tão leves que uma carícia minha, se porventura a fizesse, seria mais branda que a brisa da tardezinha."


Caio Fernando Abreu.

ps: não sou magrinha de corpo, mas sou fininha de alma.

de.li.ca.de.za

Significado de delicadeza

s.f. Qualidade do que é delicado.
Fineza, gentileza, amabilidade.
Debilidade, fraqueza, fragilidade.

domingo, 17 de maio de 2009

scrapbooking :)

Estou fazendo um scrapbook com desenhos e textos que eu fiz durante as aulas na faculdade. Daí, encontrei um texto de uma época beeem, beem triste minha e uma linda resposta de uma colega (melhor dizendo, amiga) da minha mesma sala.

Eis aí:

Con Permiso

Enquanto a vida corre
e as pessoas riem,
Enquantos muitos nascem
e outros tantos morrem,
Enquanto as cores mudam
e continuam as mesmas
Eu também mudo
Eu também continuo
As folhas, esse verde e o azul
essa lapiseira e a mesa
esse poema
Vão continuar
Enquanto eu paro por aqui,
com todo o lirismo que pode ter quem se abstém das cores.


a resposta:

Para a menina de tantas cores...

E tudo muda ao meu redor
os sentidos, o sentido, onde se perdeu?
tudo permanece no mesmo lugar
eu não...
me movimento, me desloco daqui
ainda que não saiba para onde vou
para onde vôo...
E ainda que as cores estejam agora desbotadas,
sou eu
querendo colorir céus de outras terras
buscando cores entre outras gentes
matando aos poucos para viver
enterrando os restos
para que brotem novas vidas
que me tragam novas cores
porque tudo muda ao meu redor
eu não...


(Carolina) em 27.11.07



...
E essas coisas pagam a faculdade...

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Uma definição do que é amor

Durante minha apresentação de piano,
Vi meu pai na platéia me acenando e sorrindo.
E era a única pessoa de quem eu não tinha medo.


Passou no Jô Soares:
http://www.youtube.com/watch?v=9MQjn4ec0mc

dream a little dream...



Come along with me to my little corner of the world
Dream a little dream in my little corner of the world
You'll soon forget that there's any other place
Tonight, my love, we'll share a sweet embrace

And if you care to stay in my little corner of the world
We could hide away in my little corner of the world
I always knew that I'd find someone like you
So welcome to my little corner of the world

And if you care to stay in our little corner of the world
We could hide away in our little corner of the world
We always knew that we'd find someone like you
So welcome to our little corner of the world


Música: Yo la tengo - My little corner of the world.
Ilustração: Irma Gruenholz

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Eu tive que morrer e começar tantas vezes de novo. Lady Lazarus. Sempre voltando, como uma massa amorfa, ganhando forma conforme quisesse me delinear a vida.
Mas você, não. Eu olho nos seus olhos e parece que não se passou nada. Parece que você é sempre o mesmo, bonito, rindo, levando.
Levando a vida. Como se fosse leve.
A vida é tão pesada, é a vida quem me leva.




*faz uns 2 anos que escrevi esse texto...
protótipo de ex libris.
talvez eu dê uma melhorada.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

um tanto de (brega?)

Que me perdoem, se eu insisto neste tema
Mas não sei fazer poema
Ou canção que fale de outra coisa que
Não seja o amor
Se o quadradismo dos meus versos
Vai de encontro aos intelectos
Que não usam o coração como expressão

Você abusou
Tirou partido de mim, abusou
Tirou partido de mim, abusou
Mas não faz mal
É tão normal ter desamor
É tão cafona sofrer dor
Que eu já nem sei
Se é meninice ou cafonice o meu amor

Você abusou...

sábado, 9 de maio de 2009

WALK ON


And love is not the easy thing
The only baggage that you can bring...
And love is not the easy thing...
The only baggage you can bring
Is all that you can't leave behind

And if the darkness is to keep us apart
And if the daylight feels like it's a long way off
And if your glass heart should crack
And for a second you turn back
Oh no, be strong

Walk on, walk on
What you got they can't steal it
No they can't even feel it
Walk on, walk on...
Stay safe tonight

You're packing a suitcase for a place none of us has been
A place that has to be believed to be seen
You could have flown away
A singing bird in an open cage
Who will only fly, only fly for freedom

Walk on, walk on
What you've got they can't deny it
Can't sell it, or buy it
Walk on, walk on
Stay safe tonight

And I know it aches
And your heart it breaks
And you can only take so much
Walk on, walk on

Home... hard to know what it is if you've never had one
Home... I can't say where it is but I know I'm going home
That's where the hurt is

I know it aches
How your heart it breaks
And you can only take so much
Walk on, walk on

Leave it behind
You got to leave it behind
All that you fashion
All that you make
All that you build
All that you break
All that you measure
All that you feel
All this you can leave behind
All that you reason
All that you sense
All that you speak
All you dress-up
All that you scheme...

sexta-feira, 8 de maio de 2009

mito


O palácio do Sol era um lugar fulgurante. Tinha o brilho do ouro, o lampejo do marfim e a cintilação das jóias. Por dentro e por fora, tudo era resplendor e luminescência. Era sempre meio-dia, e a penumbra sombria nunca vinha turvar a claridade. A escuridão e a noite eram ali desconhecidas. Poucos dentre os mortais teriam resistido por muito tempo àquela luminosidade imutável, mas também poucos tinham descoberto o caminho que levava até lá.
Não obstante, um dia ousou aproximar-se desse lugar um jovem que, de parte de mãe, era mortal.
Teve que parar muitas vezes para esfregar os olhos ofuscados por tanta luz, mas o propósito que o trouxera até ali era tão urgente que ele se manteve firme e apressou ainda mais os passos ao entrar no palácio, atravessando as portas polidas que conduziam à sala do trono, onde estava o Deus-Sol, envolto por um brilho resplandecente e ofuscante. Ali o jovem parou, incapaz de dar mais um só passo. Nada escapa aos olhos do Sol, que imediatamente se deu conta da presença do jovem e para ele olhou com grande amabilidade. "O que te trouxe aqui?", perguntou, "Aqui estou", respondeu com grande ousadia o outro, "para descobrir se és ou não meu pai. Minha mãe disse que sim, mas meus amigos riem de mim quando lhes digo que sou teu filho, já que em nada disso acreditam. Contei tudo isto à minha mãe, e sua resposta foi que eu viesse pessoalmente procurar-te." Sorridente, o Sol tirou sua coroa de luz ofuscante, para que o jovem pudesse olhá-lo sem maltratar os olhos. "Aproxima-te, Faetonte!", ordenou-lhe. "Clímene te disse a verdade. És meu filho, e espero que também não duvides da minha palavra. Pretendo, porém, dar-te uma prova de que não minto. Pede-me qualquer coisa que quiseres e serás atendido. Como testemunha da minha promessa, vou invocar o Estige, o rio do juramento dos deuses."
Sem dúvida, Faetonte já observara muitas vezes o Sol a percorrer os caminhos do Céu, dizendo para si mesmo com um sentimento misto de respeito e admiração: É meu pai que por ali passa!" Em seguida, punha-se a imaginar como seria estar também naquele carro, dirigindo os corcéis ao longo daquela vertiginosa trajetória com a finalidade de levar a luz ao mundo. Agora, depois de ouvir as palavras do pai, esse sonho louco estava prestes a concretizar-se. Num instante, exclamou: "Deixa-me tomar o teu lugar, pai! Não há coisa que eu mais queira. Só por um dia, por um único dia, deixa-me conduzir o teu carro."
O Sol então deu-se conta da sua própria loucura. Por que fizera aquele juramento fatal, comprometendo-se a satisfazer qualquer desejo que passasse pela cabeça jovem e imprudente do filho? "Meu caro menino", disse ele, "eis aí a única coisa que eu lhe teria recusado. Sei que não posso fazê-lo, pois jurei pelo Estige. Caso insistas, tenho que ceder, mas não creio que o faças. Ouve bem os esclarecimentos que tenho a fazer sobre o teu pedido. És filho meu e de Clímene. Assim, és também mortal, e a mortal algum é dado dirigir o meu carro. Na verdade, nenhum outro deus pode dirigi-lo, nem mesmo o Rei dos Deuses. Reflete sobre a trajetória que é preciso seguir. Subindo a partir do mar, o caminho é tão íngreme que os cavalos mal conseguem avançar, por mais descansados que estejam pela manhã. Ao chegar a metade do percurso, a altura é tão vertiginosa que nem eu mesmo gosto de olhar para baixo. Mas ainda muito pior é a descida, e esta se precipita de tal forma que os Deuses do Mar, à espera de minha chegada, ficam admirados ao ver que não me lanço de cabeça para baixo. Guiar os cavalos é também uma luta infindável. Sua natureza de fogo vai tornando-os mais impetuosos à medida que sobem, e só com muita dificuldade consigo mantê-los sob meu controle. O que não fariam eles contigo?
"Deves imaginar que lá em cima existem todas as espécies de maravilhas, cidades divinas cheias de coisas belas, mas nada disso existe. Terás de passar por feras e terríveis animais de rapina, que serão tudo o que terás para ver. O Touro, o Leão, o Escorpião, o grande Câncer, todos eles tentarão fazer-te algum mal, e não duvides por um só instante que assim será. Olha ao teu redor e vê quantas coisas belas existem no mundo. Escolhe uma que seja o mais profundo desejo de teu coração, e ela será tua. Se desejas uma prova de que sou teu pai, que prova melhor posso dar-te do que meus receios pela tua vida?"
Para o jovem, porém, toda a sabedoria contida nessa conversa não surtiu melhor efeito. Uma perspectiva gloriosa abria-se diante dele, que já se via orgulhosamente em pé naquele carro maravilhoso, guiando os corcéis que nem o próprio Jove era capaz de controlar. Não ligou a mínima para os perigos que seu pai lhe descrevera. Não se deixou perturbar um só instante pelo medo, nem pela dúvida sobre sua própria capacidade. Por fim, o Sol desistiu de tentar convencê-lo. Viu que toda tentativa seria inútil e, além disso, já não havia mais tempo para nada: o momento da partida aproximava-se. As portas do Leste já se tingiam de seu brilho purpúreo, e a Aurora já vinha abrindo o seu caminho cheio de luz rósea. As estrelas abandonavam o Céu, e até mesmo a retardatária estrela da manhã já se apagava.
Era preciso apressar-se, mas tudo estava pronto. As estações do ano, as guardiãs do Olimpo, aguardavam o momento de abrir as portas de par em par. Os cavalos tinham sidos preparados e estavam emparelhados ao carro. Com grande júbilo e orgulho, Faetonte subiu para o mesmo e partiu. Tinha feito sua escolha, e só lhe restava agora arcar com as conseqüências. Não que desejasse mudar alguma coisa naquela primeira corrida magnífica pelos ares. O próprio Vento Leste foi ultrapassado e deixado muito por trás. As velozes patas dos cavalos passavam pelas nuvens baixas, mais próximas do oceano, como se estivessem atravessando uma fina névoa marítima, e depois se elevavam rumo aos ares translúcidos das grandes alturas do Céu. Durante alguns momentos de puro êxtase, Faetonte sentiu-se o próprio Senhor do Firmamento. De repente, porém, algo se modificou. O carro começou a oscilar fortemente de um lado para o outro; a velocidade se tornou muito maior, e Faetonte percebeu que não tinha mais o controle de nada. A corrida não era mais dirigida por ele, mas pelos cavalos. Eram senhores da situação, e nada havia como controlá-los. Saíram do caminho habitual e se lançaram para cima e para baixo, para a esquerda e para a direita. Por pouco não lançaram o carro contra o Escorpião; depois, em uma vertiginosa escalada, quase se arrebentam contra o Câncer. A esta altura, o pobre condutor estava quase desmaiado de terror, e então deixou cair as rédeas.
Foi o sinal para que a corrida se tornasse mais louca e avassaladora. Os cavalos voaram para o ponto mais alto do Céu, e em seguida, mergulhando de cabeça para baixo, incendiando o mundo. As mais altas montanhas foram as primeiras a queimar – Ida e Helicon, onde vivem as Musas, o Parnaso e o Olimpo, que se eleva para além dos Céus. Através de suas encostas, as chamas desceram para os vales mais baixos e planos e para as terras cobertas de florestas escuras, até que tudo passou a ser consumido pelas chamas. As fontes evaporaram-se, e os rios foram transformados em regatos. Diz-se que foi aí que o Nilo fugiu e escondeu sua nascente, que ainda hoje continua escondida.
Faetonte, que mal conseguia manter-se no carro, foi envolto por um calor infernal e uma fumaça espessa que parecia saída de uma fornalha. A única coisa que agora queria era acabar o mais rápido possível com todo aquele tormento e terror. Teria saudado alegremente a própria morte. A situação também se tornou insuportável para a Mãe terra. Lançou um grito avassalador que foi ecoar junto aos deuses. Estes, ao olharem lá do Olimpo para baixo, viram que a salvação do mundo dependia de uma ação muito rápida de sua parte. Jove pegou o raio e lançou-o contra o condutor imprudente e arrependido. Faetonte caiu morto, o carro foi destroçado e os cavalos enlouquecidos foram lançados nas profundezas do mar.
Através dos ares, Faetonte caiu como uma bola de fogo sobre a Terra. O misterioso rio Eridano, nunca visto por qualquer mortal, recebeu-o, extinguiu o fogo e esfriou-lhe o corpo. As Náiades, com pena de vê-lo morrer tão jovem e cheio de coragem, sepultaram-no e gravaram em seu túmulo:

Aqui jaz Faetonte, que dirigiu o carro do Deus-Sol.
Foi grande o seu fracasso, mas grande também sua
[ousadia.

As irmãs dele, as Helíades (filhas de Hélio, o Sol), vieram chorá-lo em sua sepultura, e foram transformadas em álamos ali mesmo, junto às margens do Eridano,

Onde, pesarosas, vertem lágrimas eternas no leito
[do rio.
E cada uma delas, ao cair, cintila em suas águas
Como reluzente gota de âmbar.



de http://www.geocities.com/athens/styx/4087/faetonte.html

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Il pleut - Emilie Simon

Il pleut
C'est malheureux
Il pleut depuis ce matin

Il veut
S'emparer de mon être
Sans paraître malhonnête

Il pleut
Dans ces gouttes de pluie
Mes doutes s'enfuient
Je ne m'ennuie plus
Il pleut
Mais ce n'est pas la pluie
Qui occupe mes nuits

Il pleut
C'est malheureux
Il pleut depuis ce matin

Il veut
Faire de moi une reine
Est-ce que j'en vaux la peine ?

terça-feira, 5 de maio de 2009

E mesmo de noite, com todo o cansaço,
Com todo esse fardo,
E mesmo de madrugada, com todo o silêncio,

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Merci, pas pour moi mais


Encore des mots toujours des mots les mêmes mots
Rien que des mots
Des mots faciles des mots fragiles c'était trop beau
Bien trop beau
Les souvenirs se fanent aussi quand on les oublient
et emporte au loin le parfum des roses
Caramels, bonbons et chocolats
Merci, pas pour moi mais
Tu peux bien les offrir à une autre
Qui aime le vent et le parfum des roses
Moi les mots tendres enrobés de douceur
Se posent sur ma bouche
Mais jamais sur mon cœur

(...)

Que tu es belle !
Paroles et paroles et paroles
Que tu est belle !
Paroles et paroles et paroles
Que tu es belle !
Paroles et paroles et paroles
Que tu es belle !
Paroles et paroles et paroles et paroles
Paroles et encore des paroles que tu sèmes au vent!

sábado, 2 de maio de 2009

uma pessoa fina.

no céu tem margueritas - lá é open bar.
cadeiras confortáveis e dvds de filmes antigos.
lá também tem a Fernanda.

eu vou embora daqui - não sou o que vocês são.
Entre o Sono e Sonho
Fernando Pessoa

Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.

Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.

[11-9-1933, De Cancioneiro]

sexta-feira, 1 de maio de 2009


a beira do abismo
é um lugar bom
de se passear
silêncio amor
cresce no peito teu
como um câncer

terça-feira, 28 de abril de 2009

(the child is gone - Fiona Apple)


honey help me out of this mess
i'm a stanger to myself
but don't reach for me, i'm too far away
i don't wanna talk cuz there's nothing left to say

so my darling
give me your absence tonight
take all of your sympathy and leave it outside
cuz there's no kind of loving
that can make this all right
i'm trying to find a place i belong
and i suddenly feel like a different person
from the roots of my soul come a gentle coercion
and i ran my hand o'ver a strange inversion
as the darkness turns into the dawn
the child is gone

segunda-feira, 27 de abril de 2009

abro a janela.
deixo que a chuva inunde meu quarto.

os copos sujos na cômoda.
gosto de ver a fila de formigas, compenetradas,
levando o néctar da minha sujeira.

os livros e papéis no meu colchão,
durmo em cima deles.

as cartas dos amores antigos
estão lá, amontoadas,
fugindo da caixa em que as coloquei

rio da tua tentativa de dar ordem a tudo.
o desgoverno do meu quarto
está na minha própria cabeça.
e eu não te convido a entrar.

Carrie, a estranha

Mas para onde vais tão cedo?
Ainda não percebeste como fica belo o som de um piano e uma flauta
A música ainda não falou ao teu coração
te atingindo os ossos
até chegar na alma
-ainda não está inteiro o teu coração-
Como poderá se partir?

Eu sempre quis um lugar aonde, sozinha,
pudesse ficar em silêncio
e olhar o tempo.
Mas hoje eu queria que tu estivesses comigo.
Da Adélia Prado. Amo-a.



Louvados sejas Deus meu Senhor,
porque o meu coração está cortado a lâmina,
mas sorrio no espelho ao que,
à revelia de tudo, se promete.
Porque sou desgraçado
como um homem tangido para a forca,
mas me lembro de uma noite na roça,
o luar nos legumes e um grilo,
minha sombra na parede.
Louvado sejas, porque eu quero pecar
contra o afinal sítio aprazível dos mortos,
violar as tumbas com o arranhão das unhas,
mas vejo Tua cabeça pendida
e escuto o galo cantar
três vezes em meu socorro.
Louvado sejas porque a vida é horrível,
porque mais é o tempo que eu passo recolhendo despojos,
– velho ao fim da guerra como uma cabra –
mas limpo os olhos e o muco do meu nariz,
por um canteiro de grama.
Louvados sejas porque eu quero morrer,
mas tenho medo e insisto em esperar o prometido.
Uma vez, quando eu era menino, abri a porta de noite,
a horta estava branca de luar
e acreditei sem nenhum sofrimento.
Louvado sejas!

(Adélia Prado)

quarta-feira, 22 de abril de 2009

"Eu não vou mudar não
Eu vou ficar são
Mesmo se for só
Deus vai dar aval sim
O mal vai ter fim
E no final assim calado
eu sei
que vou ser coroado rei de mim"

terça-feira, 21 de abril de 2009

Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as coisas,
Não compreende quem fala delas
Com o modos de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo.
E ando com ele a toda a hora.

Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que o não conhecêssemos.
Por isso se nos não mostrou...

Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos!...

Alberto Caeiro