domingo, 26 de junho de 2011

Em cima da serra, vi uma casa. Pequena, isolada, e me perguntei quem consegue morar lá.
A gente sem querer morou numa casa dessa. Hoje eu vivo o luto da casa que a gente morava.

No meio da serra, eu vi uma cachoeira. Eu passei tantas vezes por lá, e não vi. Até que me disseram, e vi a água correndo. Água boa, que dá pra tomar banho. Você se passasse por lá, aposto, também nem via. Anos se passariam e você não notaria a presença dela.

Da minha janela eu vejo a lua, a minha sina. A Lua que me lembro adormeceu o seu amado. Eu sei do quanto eu estive dormindo, e do quanto eu estive chorando. Você falava tanto que não ouvia o sentido do meu silêncio.

Hoje o sol me acorda e me leva, mais um dia, mais trabalho, mais terra.
Eu vivo querendo juntar as coisas que eu vejo.
Eu vivo querendo e tentando ser clara.
Sendo clara de lua, ser clara de sol.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Esse é um tempo de adeus,
De uma cruz na curva da estrada,
quando me despeço de mim
E reúno na mala os des-pedaços

São dez minutos de silêncio.
São dez minutos ou serão anos.
Quanto dura uma partida.
Quanto pesa uma mala
que carrega uma vida?

É só saudade, sintetizo
E assim se dá o reinício
Espero dez pedaços
Dentro de mim reunidos
Numa só coesão
Num só ser humano
Numa só palavra
e um só coração

quinta-feira, 9 de junho de 2011

...²

você sabe o que são as flores roxas? São a gente. São qualquer coisa "morna e ingênua que vai ficando no caminho". Sabe o que me entristece? é que a falta de casa me causa um vazio.
saudades, eu sinto, principalmente de qualquer coisa de morna, ingênua, que vai ficando como vai nos deixando a paisagem do ônibus, assim como a adolescência de fotos que a gente olha e sente uma saudade de uma casa que nem existe mais.

domingo, 5 de junho de 2011

...


É a noite que se aproxima
E eu sei que a chuva acompanha
A noite que vem agora
Não tenho aqui, amigo
Nada que sossegue o peito
Só mesmo a minha fé quebrada
E o seu guarda-chuva gasto
Eu sou lilás ainda
E cores de mim pelo caminho
Me dizem do muito a unir
E eu já conheço o maior punitivo
Que é não ter o abrigo
E o nosso laço

sábado, 7 de maio de 2011

um conto

Estava insegura ao se dirigir a um lugar tão arriscado, mas seguia as palavras do Mestre e, ao encontrá-lo, novo ânimo tomou-lhe o espírito e trouxe rubor à face.
Ele estava do outro lado do rio...
Falou que a jornada seria ainda difícil, mas que ela levasse consigo o peixe, que tirou do rio, para que se alimentasse e para que partilhasse, o pássaro, que desceu das árvores, e que diria dele, sempre que necessário, e ainda um cão, que atravessou o rio a nado, para que servisse de guia e de escudo.
E assim ela seguiu.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Marisa e o peixe.

Marisa se apaixonou por um peixe. Um peixe dourado, um peixe da cor do mel. Foi um peixe que viu na imaginação. Do seu coração fez um barco, e a sua busca iniciou.
Encontrou-o, no entanto, por trás de uma vitrine, em um aquário. Foi sem querer. Não teve dúvidas ao levar o aquário para casa. Admirava o brilho âmbar do peixe a nadar.
-Esse é um peixe sensível - pensou Marisa - tenho que ter cuidado ao trocar a água...
Antes fosse um gato, que ela pudesse afagar o pêlo.
Ainda sem tocá-lo, pensava ouvir a voz do peixe. Mesmo distante, mesmo contando com escassos encontros, o amor, a ternura, a fazia sonhar e a fazia feliz.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

note

Wouldn't it be better if you weren't so bad tempered and I such a fragilized woman? Or is it the contrary? I can't say. Are you a beast that lives inside me, or are you ready to rescue me?
Wherever you are, please recognize my smile, because I recognize your eyes.

Marisa, a parede, o Emanuel.

Meu nome é Marisa e eu tenho essa parede. Acontece que onde todo mundo vê uma pessoa, eu sei que só tem fragmentos. A parede em frente a mim me pede uma resposta. Preciso saber o que fazer com ela, mas esqueci como é que se pinta. Eu esqueci e também não quero mais pintar nada.
Eu entristeci. Não sei o que fazer da parede onde outrora pendurava quadros. Os mais bonitos nem eram meus, eram todos assinados por Emanuel.
E agora? O que faço? Colagem? Tem tanto papel no meu quarto que nem cabe.
Tem tanto tamanho em mim que ninguém sabe dizer se eu sou de maior, ou de menor. Ou deve ser a minha voz, ou deve ser o meu cabelo, ou as minhas roupas, essas coisas que reparam. O que me preocupa é a parede em branco.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Notícias do lado de cá

Nadei em águas transparentes e respirei novos ares. Foi tudo como eu quis, transparência e simplicidade. Não que eu tenha isso na minha vida, mas quem sabe um dia? Comi coisas que achei que me fariam mal, mas ficou tudo bem. Senti a falta de alguém. Eu chorei e rezei.

Vou permitindo novas esperanças nascerem e brincarem. Vou me acalentando, e fazendo acordos. Vou ficando ainda mais em silêncio. Vou de vestido vermelho. E enquanto meu coração ainda espera, eu vou dando passos.

Tenho saudades, mas vou deixando um tanto para depois.