terça-feira, 28 de abril de 2009

(the child is gone - Fiona Apple)


honey help me out of this mess
i'm a stanger to myself
but don't reach for me, i'm too far away
i don't wanna talk cuz there's nothing left to say

so my darling
give me your absence tonight
take all of your sympathy and leave it outside
cuz there's no kind of loving
that can make this all right
i'm trying to find a place i belong
and i suddenly feel like a different person
from the roots of my soul come a gentle coercion
and i ran my hand o'ver a strange inversion
as the darkness turns into the dawn
the child is gone

segunda-feira, 27 de abril de 2009

abro a janela.
deixo que a chuva inunde meu quarto.

os copos sujos na cômoda.
gosto de ver a fila de formigas, compenetradas,
levando o néctar da minha sujeira.

os livros e papéis no meu colchão,
durmo em cima deles.

as cartas dos amores antigos
estão lá, amontoadas,
fugindo da caixa em que as coloquei

rio da tua tentativa de dar ordem a tudo.
o desgoverno do meu quarto
está na minha própria cabeça.
e eu não te convido a entrar.

Carrie, a estranha

Mas para onde vais tão cedo?
Ainda não percebeste como fica belo o som de um piano e uma flauta
A música ainda não falou ao teu coração
te atingindo os ossos
até chegar na alma
-ainda não está inteiro o teu coração-
Como poderá se partir?

Eu sempre quis um lugar aonde, sozinha,
pudesse ficar em silêncio
e olhar o tempo.
Mas hoje eu queria que tu estivesses comigo.
Da Adélia Prado. Amo-a.



Louvados sejas Deus meu Senhor,
porque o meu coração está cortado a lâmina,
mas sorrio no espelho ao que,
à revelia de tudo, se promete.
Porque sou desgraçado
como um homem tangido para a forca,
mas me lembro de uma noite na roça,
o luar nos legumes e um grilo,
minha sombra na parede.
Louvado sejas, porque eu quero pecar
contra o afinal sítio aprazível dos mortos,
violar as tumbas com o arranhão das unhas,
mas vejo Tua cabeça pendida
e escuto o galo cantar
três vezes em meu socorro.
Louvado sejas porque a vida é horrível,
porque mais é o tempo que eu passo recolhendo despojos,
– velho ao fim da guerra como uma cabra –
mas limpo os olhos e o muco do meu nariz,
por um canteiro de grama.
Louvados sejas porque eu quero morrer,
mas tenho medo e insisto em esperar o prometido.
Uma vez, quando eu era menino, abri a porta de noite,
a horta estava branca de luar
e acreditei sem nenhum sofrimento.
Louvado sejas!

(Adélia Prado)

quarta-feira, 22 de abril de 2009

"Eu não vou mudar não
Eu vou ficar são
Mesmo se for só
Deus vai dar aval sim
O mal vai ter fim
E no final assim calado
eu sei
que vou ser coroado rei de mim"

terça-feira, 21 de abril de 2009

Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as coisas,
Não compreende quem fala delas
Com o modos de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo.
E ando com ele a toda a hora.

Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que o não conhecêssemos.
Por isso se nos não mostrou...

Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos!...

Alberto Caeiro