sábado, 30 de maio de 2009

O Que Me Importa

Marisa Monte

Composição: Cury

O que me importa
Seu carinho agora
Se é muito tarde
Para amar você...

O que me importa
Se você me adora
Se já não há razão
Pra lhe querer...

O que me importa
Ver você sofrer assim
Se quando eu lhe quis
Você nem mesmo soube dar
Amor!...

O que me importa
Ver você chorando
Se tantas vezes
Eu chorei também...

O que me importa
Sua voz chamando
Se pra você jamais
Eu fui alguém...

O que me importa
Essa tristeza em seu olhar
Se o meu olhar tem mais
Tristezas pra chorar
Que o seu...

O que me importa
Ver você tão triste
Se triste fui
E você nem ligou...

O que me importa
Seu carinho agora
Se, para mim,
a vida terminou...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Estranho adj. (Lat. extraneus). 1. Contrário ao uso, ao normal ou ao esperado. 2. Incomum, insólito, extraordinário. 3. Exterior, estrangeiro, externo. 4. Desconhecido, misterioso. 5. Que não tem nenhuma relação como o assunto ou tema; alheio. 6. s.m. Indivíduo estrangeiro. 7. s.m. Pessoa que não conhecemos. 8. s.m. Aquilo que se estranha.

Exs.:

Joana usava termos estranhos, era difícil entendê-la. (4)
O comportamento dele era muito estranho. (2)

Sinônimos: Estrangeiro, Forasteiro, Alienígena, Desconhecido, Misterioso, Obscuro, Desusado, Insólito, Anormal, Externo, Exterior, Esquisito, Extravagante, Exótico

Antônimos: Nativo, Conhecido, Costumeiro, Interno, Normal.

Ser de sagitário - Adriana Calcanhoto
Péricles Cavalcanti

Você metade gente
e metade cavalo
Durante o fim do ano
cruza o planetário

Cavalga elegância
Cabeça em pé de guerra mansa
Nas mãos arco e flecha
Meu coração
Aguarda e acompanha
seu itinerário
Até o fim do ano
ser de sagitário

Você metade gente
e metade cavalo
This land is mine.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

uns acham brega,

outros acham batido,
outros acham lindo,

eu acho que é bom não esquecer:

E foi então que apareceu a raposa.
__ Bom dia - disse a raposa.
__ Bom dia - respondeu educadamente o pequeno príncipe, que , olhando a sua volta, nada viu.
__ Eu estou aqui - disse a voz, debaixo da macieira...
__ Quem és tu? - perguntou o principezinho. __ Tu es bem bonita...
__ Sou uma raposa - disse a raposa.
__ Vem brincar comigo - propôs ele. __ Estou tão triste...
__ Eu não posso brincar contigo - disse a raposa. __ Não me cativaram ainda.
__ Ah! desculpa - disse o principezinho.
Mas após refletir, acrescentou:
__ O que quer dizer "cativar"?
__ Tu não és daqui - disse a raposa. __ Que procuras?
__ Procuro homens - disse o pequeno príncipe. __ Que quer dizer "cativar"?
__ Os homens - disse a raposa - têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?
__ Não - disse o príncipe. __ Eu procuro amigos. __ Que quer dizer "cativar"?
__ É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. __ Significa "criar laços"...
__ Criar laços?
__ Exatamente - disse a raposa. __ Tu não és nada para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E Não tenho necessidade de ti. E tu também não tem necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. Eu serei para ti única no mundo...
__ Começo a compreender - disse o pequeno príncipe. __ Existe uma flôr... eu creio que ela me cativou...
__ É possível - disse a raposa. __ Vê-se tanta coisa na Terra...
__ Oh! não foi na Terra - disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
__ Num outro planeta?
__ Sim.
__ Há caçadores nesse outro planeta?
__ Não.
__ Que bom! E galinhas?
__ Também não
__ Nada é perfeito - suspirou a raposa.
Mas a raposa retornou a seu raciocínio.
__ Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens também. E isso me incomoda um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo... A raposa calou-se e observou por muito tempo o príncipe:
__ Por favor... cativa-me! -disse ela.
__ Eu até gostaria -disse o principezinho -, mas não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
__ A gente só conhece bem as coisas que cativou -disse a raposa. __ Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
__ O que é preciso fazer? -perguntou o pequeno príncipe.
__ É preciso ser paciente -respondeu a raposa. __ Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. E te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás um pouco mais perto...
No dia seguinte o príncipe voltou.
__ Teria sido melhor se voltasses à mesma hora -disse a raposa. __ Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz! Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coração... É preciso que haja um ritual.
__ Que é um "ritual"? -perguntou o principezinho.
__ É uma coisa muito esquecida também -disse a raposa. __ É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, adoram um ritual. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira é então o dia maravilhoso! Vou passear até à vinha. Se os caçadores dançassem em qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu nunca teria férias!
Assim o pequeno príncipe cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
__ Ah! Eu vou chorar.
__ A culpa é tua -disse o principezinho. __ Eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
__ Quis -disse a raposa.
__ Mas tu vais chorar! -disse ele.
__ Vou - disse a raposa.
__ Então não terás ganho nada!
__ Terei, sim - disse a raposa __ por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
__ Vai rever as rosas. Assim, compreenderá que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te presentearei com um segredo.
O pequeno príncipe foi rever as rosas:
__ Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativaste ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu a tornei minha amiga. Agora ela é única no mundo.
E as rosas ficaram desapontadas.
__ Sóis belas, mas vazias -continuou ele. __Não se pode morrer por vós. Um passante qualquer sem dúvida pensaria que a minha rosa se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mas importante que todas vós, pois foi ela quem eu reguei. Foi ela quem pus sob a redoma. Foi ela quem abriguei com o pára-vento. Foi nela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi ela quem eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. Já que ela é a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
__ Adeus... -disse ele.
__ Adeus -disse a raposa. __ Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
__ O essencial é invisível aos olhos -repetiu o principezinho, para não esquecer.
__ Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante.
__ Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... -repetiu ele, para não esquecer.
__ Os homens esqueceram essa verdade -disse ainda a raposa. __ Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa...
__ Eu sou responsável pela minha rosa... -repetiu o principezinho, para não esquecer.



(Antoine de Saint-Exupéry - O Pequeno príncipe)

terça-feira, 26 de maio de 2009

lady lazarus

fragmento do poema de Sylvia Plath

   ...
Comeback in broad day

To the same place, the same face, the same brute
Amused shout:

'A miracle!'
That knocks me out.
There is a charge

For the eyeing of my scars, there is a charge
For the hearing of my heart----
It really goes.

And there is a charge, a very large charge
For a word or a touch
Or a bit of blood

domingo, 24 de maio de 2009

outra definição do que é amor,

If I pour your cup, that is friendship
If I add your milk, that is manners
If I stop there, claiming ignorance of taste,
That is tea

But if I measure the sugar
To satisfy your expectant tongue
Then that is love.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Minha casa vai ter muitos objetos delicados, umas artes meio orientais. uns quadros que eu mesma vou pintar. um bom som, um bom aparelho de dvd, uma boa televisão, com canais a cabo.
vai ter um piano de parede. talvez um piano digital, pra que eu possa colocar fones de ouvido e não incomodar os outros. mas preferencialmente um piano de parede.
quero paz de espírito na minha casa.


vai ter almofadas e pufes. um divã.
quero conforto na minha casa.


vai ter um gato e um cachorro.
quero equilíbrio na minha casa.


antes de entrar na minha casa, você vai precisar tirar os sapatos. quero uma mesa redonda, nada de mesa retangular ou quadrada. quero que todos possam se ver, quando sentarem à mesa pra experimentarem de qualquer coisa que eu tenha decidido fazer na cozinha.

para minha casa vou levar aquele mesmo quadro que eu tenho desde que tinha1 ano de idade. O da menina com o passáro na janela. Vou levar também a réplica do "moça com brinco de pérola", que tia Fátima prometeu que ia trazer e ainda não trouxe.

vou levar minha máquina de escrever.

quero uma bonita estante de madeira, com porta com vidro pra colocar meus livros. todos devidamente marcados com o ex libris que eu ainda vou imprimir.

as paredes vão ser claras, mas vou colocar objetos coloridos, pra que eles saltem aos olhos. mesmo dos mais desavisados.


...

quero que esteja comigo alguém que possa me entender. quero que esse alguém traga suas próprias coisas, sua própria história, suas coleções de não-sei-o-quê. mas que entenda a mim e entenda minha casa. vamos dividindo o espaço, e aos poucos a casa vai sendo dele e aos poucos.. eu também vou sendo sua.

de.li.ca.de.za 3

"As pessoas delicadas são aquelas que a cada idéia ou gosto juntam muitas idéias ou muitos gostos acessórios. As pessoas grosseiras apenas têm uma sensação; a sua alma não sabe compor nem descompor; não juntam nem retiram nada ao que a natureza fornece: ao passo que as pessoas delicadas no amor criam elas próprias a maior parte dos prazeres do amor. Polixena e Apicio trouxeram para a mesa bastantes sensações desconhecidas aos nossos vulgares manjares; e aqueles que julgam o gosto das obras do espírito possuem e produzem uma infinidade de sensações que os outros homens não possuem."

Baron de Montesquieu, in 'Ensaio Sobre o Gosto'



É,
desejo delicadeza pra você ;)

de.li.ca.de.za 2

"Não, não ofereço perigo algum: sou quieta como folha de outono esquecida entre as páginas de um livro, definida e clara como o jarro com a bacia de ágata no canto do quarto - se tomada com cuidado, verto água límpida sobre as mãos para que se possa refrescar o rosto, mas se tocada por dedos bruscos num segundo me estilhaço em cacos, me esfarelo em poeira dourada. Tenho pensado se não guardarei indisfarçáveis remendos das muitas quedas, dos muitos toques, embora sempre os tenha evitado aprendi que minhas delicadezas nem sempre são suficientes para despertar a suavidade alheia, e mesmo assim insisto - meus gestos e palavras são magrinhos como eu, e tão morenos que, esboçados à sombra, mal se destacam do escuro, quase imperceptível me movo, meus passos são inaudíveis feito pisasse sempre sobre tapetes, impressentida, mãos tão leves que uma carícia minha, se porventura a fizesse, seria mais branda que a brisa da tardezinha."


Caio Fernando Abreu.

ps: não sou magrinha de corpo, mas sou fininha de alma.

de.li.ca.de.za

Significado de delicadeza

s.f. Qualidade do que é delicado.
Fineza, gentileza, amabilidade.
Debilidade, fraqueza, fragilidade.

domingo, 17 de maio de 2009

scrapbooking :)

Estou fazendo um scrapbook com desenhos e textos que eu fiz durante as aulas na faculdade. Daí, encontrei um texto de uma época beeem, beem triste minha e uma linda resposta de uma colega (melhor dizendo, amiga) da minha mesma sala.

Eis aí:

Con Permiso

Enquanto a vida corre
e as pessoas riem,
Enquantos muitos nascem
e outros tantos morrem,
Enquanto as cores mudam
e continuam as mesmas
Eu também mudo
Eu também continuo
As folhas, esse verde e o azul
essa lapiseira e a mesa
esse poema
Vão continuar
Enquanto eu paro por aqui,
com todo o lirismo que pode ter quem se abstém das cores.


a resposta:

Para a menina de tantas cores...

E tudo muda ao meu redor
os sentidos, o sentido, onde se perdeu?
tudo permanece no mesmo lugar
eu não...
me movimento, me desloco daqui
ainda que não saiba para onde vou
para onde vôo...
E ainda que as cores estejam agora desbotadas,
sou eu
querendo colorir céus de outras terras
buscando cores entre outras gentes
matando aos poucos para viver
enterrando os restos
para que brotem novas vidas
que me tragam novas cores
porque tudo muda ao meu redor
eu não...


(Carolina) em 27.11.07



...
E essas coisas pagam a faculdade...

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Uma definição do que é amor

Durante minha apresentação de piano,
Vi meu pai na platéia me acenando e sorrindo.
E era a única pessoa de quem eu não tinha medo.


Passou no Jô Soares:
http://www.youtube.com/watch?v=9MQjn4ec0mc

dream a little dream...



Come along with me to my little corner of the world
Dream a little dream in my little corner of the world
You'll soon forget that there's any other place
Tonight, my love, we'll share a sweet embrace

And if you care to stay in my little corner of the world
We could hide away in my little corner of the world
I always knew that I'd find someone like you
So welcome to my little corner of the world

And if you care to stay in our little corner of the world
We could hide away in our little corner of the world
We always knew that we'd find someone like you
So welcome to our little corner of the world


Música: Yo la tengo - My little corner of the world.
Ilustração: Irma Gruenholz

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Eu tive que morrer e começar tantas vezes de novo. Lady Lazarus. Sempre voltando, como uma massa amorfa, ganhando forma conforme quisesse me delinear a vida.
Mas você, não. Eu olho nos seus olhos e parece que não se passou nada. Parece que você é sempre o mesmo, bonito, rindo, levando.
Levando a vida. Como se fosse leve.
A vida é tão pesada, é a vida quem me leva.




*faz uns 2 anos que escrevi esse texto...
protótipo de ex libris.
talvez eu dê uma melhorada.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

um tanto de (brega?)

Que me perdoem, se eu insisto neste tema
Mas não sei fazer poema
Ou canção que fale de outra coisa que
Não seja o amor
Se o quadradismo dos meus versos
Vai de encontro aos intelectos
Que não usam o coração como expressão

Você abusou
Tirou partido de mim, abusou
Tirou partido de mim, abusou
Mas não faz mal
É tão normal ter desamor
É tão cafona sofrer dor
Que eu já nem sei
Se é meninice ou cafonice o meu amor

Você abusou...

sábado, 9 de maio de 2009

WALK ON


And love is not the easy thing
The only baggage that you can bring...
And love is not the easy thing...
The only baggage you can bring
Is all that you can't leave behind

And if the darkness is to keep us apart
And if the daylight feels like it's a long way off
And if your glass heart should crack
And for a second you turn back
Oh no, be strong

Walk on, walk on
What you got they can't steal it
No they can't even feel it
Walk on, walk on...
Stay safe tonight

You're packing a suitcase for a place none of us has been
A place that has to be believed to be seen
You could have flown away
A singing bird in an open cage
Who will only fly, only fly for freedom

Walk on, walk on
What you've got they can't deny it
Can't sell it, or buy it
Walk on, walk on
Stay safe tonight

And I know it aches
And your heart it breaks
And you can only take so much
Walk on, walk on

Home... hard to know what it is if you've never had one
Home... I can't say where it is but I know I'm going home
That's where the hurt is

I know it aches
How your heart it breaks
And you can only take so much
Walk on, walk on

Leave it behind
You got to leave it behind
All that you fashion
All that you make
All that you build
All that you break
All that you measure
All that you feel
All this you can leave behind
All that you reason
All that you sense
All that you speak
All you dress-up
All that you scheme...

sexta-feira, 8 de maio de 2009

mito


O palácio do Sol era um lugar fulgurante. Tinha o brilho do ouro, o lampejo do marfim e a cintilação das jóias. Por dentro e por fora, tudo era resplendor e luminescência. Era sempre meio-dia, e a penumbra sombria nunca vinha turvar a claridade. A escuridão e a noite eram ali desconhecidas. Poucos dentre os mortais teriam resistido por muito tempo àquela luminosidade imutável, mas também poucos tinham descoberto o caminho que levava até lá.
Não obstante, um dia ousou aproximar-se desse lugar um jovem que, de parte de mãe, era mortal.
Teve que parar muitas vezes para esfregar os olhos ofuscados por tanta luz, mas o propósito que o trouxera até ali era tão urgente que ele se manteve firme e apressou ainda mais os passos ao entrar no palácio, atravessando as portas polidas que conduziam à sala do trono, onde estava o Deus-Sol, envolto por um brilho resplandecente e ofuscante. Ali o jovem parou, incapaz de dar mais um só passo. Nada escapa aos olhos do Sol, que imediatamente se deu conta da presença do jovem e para ele olhou com grande amabilidade. "O que te trouxe aqui?", perguntou, "Aqui estou", respondeu com grande ousadia o outro, "para descobrir se és ou não meu pai. Minha mãe disse que sim, mas meus amigos riem de mim quando lhes digo que sou teu filho, já que em nada disso acreditam. Contei tudo isto à minha mãe, e sua resposta foi que eu viesse pessoalmente procurar-te." Sorridente, o Sol tirou sua coroa de luz ofuscante, para que o jovem pudesse olhá-lo sem maltratar os olhos. "Aproxima-te, Faetonte!", ordenou-lhe. "Clímene te disse a verdade. És meu filho, e espero que também não duvides da minha palavra. Pretendo, porém, dar-te uma prova de que não minto. Pede-me qualquer coisa que quiseres e serás atendido. Como testemunha da minha promessa, vou invocar o Estige, o rio do juramento dos deuses."
Sem dúvida, Faetonte já observara muitas vezes o Sol a percorrer os caminhos do Céu, dizendo para si mesmo com um sentimento misto de respeito e admiração: É meu pai que por ali passa!" Em seguida, punha-se a imaginar como seria estar também naquele carro, dirigindo os corcéis ao longo daquela vertiginosa trajetória com a finalidade de levar a luz ao mundo. Agora, depois de ouvir as palavras do pai, esse sonho louco estava prestes a concretizar-se. Num instante, exclamou: "Deixa-me tomar o teu lugar, pai! Não há coisa que eu mais queira. Só por um dia, por um único dia, deixa-me conduzir o teu carro."
O Sol então deu-se conta da sua própria loucura. Por que fizera aquele juramento fatal, comprometendo-se a satisfazer qualquer desejo que passasse pela cabeça jovem e imprudente do filho? "Meu caro menino", disse ele, "eis aí a única coisa que eu lhe teria recusado. Sei que não posso fazê-lo, pois jurei pelo Estige. Caso insistas, tenho que ceder, mas não creio que o faças. Ouve bem os esclarecimentos que tenho a fazer sobre o teu pedido. És filho meu e de Clímene. Assim, és também mortal, e a mortal algum é dado dirigir o meu carro. Na verdade, nenhum outro deus pode dirigi-lo, nem mesmo o Rei dos Deuses. Reflete sobre a trajetória que é preciso seguir. Subindo a partir do mar, o caminho é tão íngreme que os cavalos mal conseguem avançar, por mais descansados que estejam pela manhã. Ao chegar a metade do percurso, a altura é tão vertiginosa que nem eu mesmo gosto de olhar para baixo. Mas ainda muito pior é a descida, e esta se precipita de tal forma que os Deuses do Mar, à espera de minha chegada, ficam admirados ao ver que não me lanço de cabeça para baixo. Guiar os cavalos é também uma luta infindável. Sua natureza de fogo vai tornando-os mais impetuosos à medida que sobem, e só com muita dificuldade consigo mantê-los sob meu controle. O que não fariam eles contigo?
"Deves imaginar que lá em cima existem todas as espécies de maravilhas, cidades divinas cheias de coisas belas, mas nada disso existe. Terás de passar por feras e terríveis animais de rapina, que serão tudo o que terás para ver. O Touro, o Leão, o Escorpião, o grande Câncer, todos eles tentarão fazer-te algum mal, e não duvides por um só instante que assim será. Olha ao teu redor e vê quantas coisas belas existem no mundo. Escolhe uma que seja o mais profundo desejo de teu coração, e ela será tua. Se desejas uma prova de que sou teu pai, que prova melhor posso dar-te do que meus receios pela tua vida?"
Para o jovem, porém, toda a sabedoria contida nessa conversa não surtiu melhor efeito. Uma perspectiva gloriosa abria-se diante dele, que já se via orgulhosamente em pé naquele carro maravilhoso, guiando os corcéis que nem o próprio Jove era capaz de controlar. Não ligou a mínima para os perigos que seu pai lhe descrevera. Não se deixou perturbar um só instante pelo medo, nem pela dúvida sobre sua própria capacidade. Por fim, o Sol desistiu de tentar convencê-lo. Viu que toda tentativa seria inútil e, além disso, já não havia mais tempo para nada: o momento da partida aproximava-se. As portas do Leste já se tingiam de seu brilho purpúreo, e a Aurora já vinha abrindo o seu caminho cheio de luz rósea. As estrelas abandonavam o Céu, e até mesmo a retardatária estrela da manhã já se apagava.
Era preciso apressar-se, mas tudo estava pronto. As estações do ano, as guardiãs do Olimpo, aguardavam o momento de abrir as portas de par em par. Os cavalos tinham sidos preparados e estavam emparelhados ao carro. Com grande júbilo e orgulho, Faetonte subiu para o mesmo e partiu. Tinha feito sua escolha, e só lhe restava agora arcar com as conseqüências. Não que desejasse mudar alguma coisa naquela primeira corrida magnífica pelos ares. O próprio Vento Leste foi ultrapassado e deixado muito por trás. As velozes patas dos cavalos passavam pelas nuvens baixas, mais próximas do oceano, como se estivessem atravessando uma fina névoa marítima, e depois se elevavam rumo aos ares translúcidos das grandes alturas do Céu. Durante alguns momentos de puro êxtase, Faetonte sentiu-se o próprio Senhor do Firmamento. De repente, porém, algo se modificou. O carro começou a oscilar fortemente de um lado para o outro; a velocidade se tornou muito maior, e Faetonte percebeu que não tinha mais o controle de nada. A corrida não era mais dirigida por ele, mas pelos cavalos. Eram senhores da situação, e nada havia como controlá-los. Saíram do caminho habitual e se lançaram para cima e para baixo, para a esquerda e para a direita. Por pouco não lançaram o carro contra o Escorpião; depois, em uma vertiginosa escalada, quase se arrebentam contra o Câncer. A esta altura, o pobre condutor estava quase desmaiado de terror, e então deixou cair as rédeas.
Foi o sinal para que a corrida se tornasse mais louca e avassaladora. Os cavalos voaram para o ponto mais alto do Céu, e em seguida, mergulhando de cabeça para baixo, incendiando o mundo. As mais altas montanhas foram as primeiras a queimar – Ida e Helicon, onde vivem as Musas, o Parnaso e o Olimpo, que se eleva para além dos Céus. Através de suas encostas, as chamas desceram para os vales mais baixos e planos e para as terras cobertas de florestas escuras, até que tudo passou a ser consumido pelas chamas. As fontes evaporaram-se, e os rios foram transformados em regatos. Diz-se que foi aí que o Nilo fugiu e escondeu sua nascente, que ainda hoje continua escondida.
Faetonte, que mal conseguia manter-se no carro, foi envolto por um calor infernal e uma fumaça espessa que parecia saída de uma fornalha. A única coisa que agora queria era acabar o mais rápido possível com todo aquele tormento e terror. Teria saudado alegremente a própria morte. A situação também se tornou insuportável para a Mãe terra. Lançou um grito avassalador que foi ecoar junto aos deuses. Estes, ao olharem lá do Olimpo para baixo, viram que a salvação do mundo dependia de uma ação muito rápida de sua parte. Jove pegou o raio e lançou-o contra o condutor imprudente e arrependido. Faetonte caiu morto, o carro foi destroçado e os cavalos enlouquecidos foram lançados nas profundezas do mar.
Através dos ares, Faetonte caiu como uma bola de fogo sobre a Terra. O misterioso rio Eridano, nunca visto por qualquer mortal, recebeu-o, extinguiu o fogo e esfriou-lhe o corpo. As Náiades, com pena de vê-lo morrer tão jovem e cheio de coragem, sepultaram-no e gravaram em seu túmulo:

Aqui jaz Faetonte, que dirigiu o carro do Deus-Sol.
Foi grande o seu fracasso, mas grande também sua
[ousadia.

As irmãs dele, as Helíades (filhas de Hélio, o Sol), vieram chorá-lo em sua sepultura, e foram transformadas em álamos ali mesmo, junto às margens do Eridano,

Onde, pesarosas, vertem lágrimas eternas no leito
[do rio.
E cada uma delas, ao cair, cintila em suas águas
Como reluzente gota de âmbar.



de http://www.geocities.com/athens/styx/4087/faetonte.html

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Il pleut - Emilie Simon

Il pleut
C'est malheureux
Il pleut depuis ce matin

Il veut
S'emparer de mon être
Sans paraître malhonnête

Il pleut
Dans ces gouttes de pluie
Mes doutes s'enfuient
Je ne m'ennuie plus
Il pleut
Mais ce n'est pas la pluie
Qui occupe mes nuits

Il pleut
C'est malheureux
Il pleut depuis ce matin

Il veut
Faire de moi une reine
Est-ce que j'en vaux la peine ?

terça-feira, 5 de maio de 2009

E mesmo de noite, com todo o cansaço,
Com todo esse fardo,
E mesmo de madrugada, com todo o silêncio,

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Merci, pas pour moi mais


Encore des mots toujours des mots les mêmes mots
Rien que des mots
Des mots faciles des mots fragiles c'était trop beau
Bien trop beau
Les souvenirs se fanent aussi quand on les oublient
et emporte au loin le parfum des roses
Caramels, bonbons et chocolats
Merci, pas pour moi mais
Tu peux bien les offrir à une autre
Qui aime le vent et le parfum des roses
Moi les mots tendres enrobés de douceur
Se posent sur ma bouche
Mais jamais sur mon cœur

(...)

Que tu es belle !
Paroles et paroles et paroles
Que tu est belle !
Paroles et paroles et paroles
Que tu es belle !
Paroles et paroles et paroles
Que tu es belle !
Paroles et paroles et paroles et paroles
Paroles et encore des paroles que tu sèmes au vent!

sábado, 2 de maio de 2009

uma pessoa fina.

no céu tem margueritas - lá é open bar.
cadeiras confortáveis e dvds de filmes antigos.
lá também tem a Fernanda.

eu vou embora daqui - não sou o que vocês são.
Entre o Sono e Sonho
Fernando Pessoa

Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.

Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.

[11-9-1933, De Cancioneiro]

sexta-feira, 1 de maio de 2009


a beira do abismo
é um lugar bom
de se passear
silêncio amor
cresce no peito teu
como um câncer