segunda-feira, 24 de maio de 2010

O seu olhar

Andando pela cidade, a mulher percebeu as cores das plantas e flores se avivarem. Verde mais verde, branco mais branco. O chão de terra molhada no jardim lembrou os olhos do amado. Profundos e castanhos, lá ela enterrou seu coração por um tempo.
Ela era complexa e lilás.
Seu sangue era como um roxo forte, pois misturava um vermelho quente e um azul calmo e acolhedor.
Sua alma parecia amarela. À primeira vista, somente, pois na verdade era cristal, e reproduzia todos os outros tons.
Ao olhar a cor das flores e folhas, pensou que cor teria agora. Não sabia.
Tudo mais dependia do olhar dele.
Agradeceu e pensou que a colheita seria boa.

domingo, 23 de maio de 2010

Sobre a faculdade

Hoje eu percebo que, o tempo que perdi praguejando e desejando que a faculdade passasse rápido, poderia ter sido melhor aproveitado com leitura e estudo do que me interessa. Até certo ponto, tentei fazer isso, mas insisti na minha ida às aulas, constantemente me torturando, preenchendo o meu vazio com outro vazio sem sentido: o vazio das presenças, faltas e notas. Se tem alguém que preciso agradecer por esses cinco anos mal aproveitados, bem, pelo menos por ter de fato ido para as aulas, eu agradeço a essas duas entidades benéficas que por muito tempo guiaram minha vida :

Fluoxetina (valeu!)
e
Café (ainda te amo!)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Complicação, dividendo,
Ambigüidade, jurisdição,
Arbitrário, mariposa,
Mosquito, situação,
Suor, Criticismo,
Vulgaridade,
Intelectualismo e
Prisão.


A Sra. preencha esse papel e dirija-se ao departamento dos bobos, no último andar do prédio, que não tem paredes e nem nada, nem seta que indique, que aí a Sra. vai parar de sentir.

domingo, 16 de maio de 2010

Acho que vi um gatinho...

O vi e coloquei a meiguice no olhar.
Perscrutei seu espírito e enchi tudo de cores.
Imaginei que música sua alma teria.
Senti seu segredo e ouvi sua loucura.
Quis proteger-me, pela noite,
Quis levá-lo, pelo dia.
Mas tudo que ganhei era meu.
E tudo que vi era eu.

sábado, 15 de maio de 2010

diálogo

Ela:
Tento comer e não posso
Tento viver e não quero
Fecho os olhos, mas acordo
Enfrento tortuoso mistério

Ele:
Ando, mas a estrada é longa
Corro, mas a pressa não é justa
Salto, mas meus pés sangram
Deito, mas a vida é curta

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Eu rezo

Sabe quando você chora tanto que você queria se afogar nas suas lágrimas?
Sei.
Sei, mas hoje eu vou juntar as minhas lágrimas e fazer um terço. A bolinha é maior quando a mágoa é grande.
Mas tudo bem, porque minha reza é forte.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Nina Simone - Ain't Got No...I've Got Life





Ain't got no home, ain't got no shoes
Ain't got no money, ain't got no class
Ain't got no skirts, ain't got no sweaters
Ain't got no faith, ain't got no beard
Ain't got no mind

Ain't got no mother, ain't got no culture
Ain't got no friends, ain't got no schooling
Ain't got no name, ain't got no love
Ain't got no ticket, ain't got no token
Ain't got no God

What have I got?
Why am I alive anyway?
Yeah, what have I got?
Nobody can take away

I got my hair, I got my head
I got my brains, I got my ears
I got my eyes, I got my nose
I got my mouth, I got my smile

I got my tongue, I got my chin
I got my neck, I got my boobs
I got my heart, I got my soul
I got my back, I got my sex

I got my arms, I got my hands
I got my fingers, Got my legs
I got my feet, I got my toes
I got my liver, Got my blood

I've got life, I've got my freedom
I've got the life

I got a headache, and toothache,
And bad times too like you,
I got my hair, I got my head
I got my brains, I got my ears
I got my eyes, I got my nose
I got my mouth, I got my smile

I got my tongue, I got my chin
I got my neck, I got my boobies
I got my heart, I got my soul
I got my back, I got my sex

I got my arms, I got my hands
I got my fingers, Got my legs
I got my feet, I got my toes
I got my liver, Got my blood

I've got life, I've got my freedom
I've got life, I'm gonna keep it
I've got life, I'm gonna keep it


:)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Quero

Quero que lágrimas pesadas escorram pelo meu rosto e espalhem ramas pelo chão.
Quero que o vento me encontre a face, e um frio intenso me assalte.
Quero a confusão da minha barriga.
Quero que a sua mão entre no meu peito, segure meu coração incerto e pressinta seu fogo.
Quero que da minha boca saia o piche negro que asfaltará meu solo.
Quero a comida certa para a minha fome.

domingo, 9 de maio de 2010

Escaras por roupa

Encontrei um velhinho que tinha escaras por roupa.
Andava pelo ônibus de máscara, balbuciando palavras que não puderam ser ouvidas.
Nas mãos trêmulas, uma lista extensa de medicamentos, que ninguém viu. Ninguém soube, ninguém viu, ninguém ouve.
Meu relógio marcava 12 horas. Passamos por uma igreja, e lá o sinos badalaram. Algumas pessoas se benzeram. Outras disseram: no meu relógio já são 12:01, será meu relógio ou os sinos que estão atrasados?
Eu quis dizer que Jesus estava no ônibus. Não disse.
Nada conseguido da exibição das escaras.
Talvez só mesmo esse texto.
Talvez só mesmo para mim, e para o que eu vi e senti.
Porque vi que mesmo assim, ao meio dia, exibindo as escaras, não, as pessoas não vão entender.
Elas não vão nem sequer, aliás, deixar de esbarrar em você.
E assim vão passando suavemente pela vida.
Como se o sol do meio dia não queimasse a nós todos.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

X'll mark the place

Where I end and you begin

Não sei colocar vídeos no blog, mas acima é o link para o vídeo no youtube.

"Where I End And You Begin"
Radiohead


"...I am up in the clouds
I am up in the clouds
And I can't and I can't come down
I can watch and cant take part
Where I end and where you start
Where you, you left me alone
You left me alone
X'll mark the place
Like the parting of the waves
Like a house falling in the sea"

Fantasminha

Sou um fantasma
Raramente sentido
Só finamente percebido
Sou uma rosa muda
Que não desabrocha nunca

Ah, falar, como quero!
Sou o fantasminha do quarto
Sou a presença que fica
O espírito que tenta,
Mas não se comunica

Não sou um orgulho de pais
Não sou um orgulho de mães
Não sou sequer um estande
Na feira das profissões
Sou ainda o que nasce:
Uma simples capacidade de amar
Fumacinha de corações

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sobre as omeletes

Há dias que vejo tudo vermelho, que vejo tudo azul, que vejo tudo mesmo negro, porque acho que por dentro o que há é um grande cinza de indefinição.
Nesses dias é que eu cozinho mais. Geralmente eu faço omeletes.
Hoje eu fiz um macarrão muito elaborado para o almoço. O que me daria preguiça de fazer, sai sempre fácil e bom. Por uns instantes é como se meu espírito se desprendesse do meu corpo e fosse para aquele lugar, tão presente nas canções do mundo: strawberry fields, the end of the rainbow, sam's town...
Acabo de colocar um bolo no forno. Se tudo der certo, ficará fofinho e delicioso.
Algumas verdades, pelo menos pra mim e muita gente ainda, estão na cozinha, e são elas:
Tudo fica melhor com manteiga.
Tudo fica melhor com creme de leite.
Tudo feito com leite condensado tem tudo pra dar certo!

E com essas verdades, a gente que cozinha pode contar... No dia que a cozinha for um lugar incerto pra mim.. Não sei pra onde vou correr.

domingo, 2 de maio de 2010

Jennifer

(A The Killers tribute)

I was lost when I was nine
Just like I'm lost now
Cause I'm here in this heaven
That's so expensive to buy
My curls won't grow
Here in the ground
My hair will be roots
Grass in the field
So a beautiful boy could lay down on me
Cause I'm the nicest girl he had ever seen


The boy that I fell in love with
He bought me a halo, and these wings
But they were hard to bear
and the smells of the saints
they were just so hard to take
Still, I had to pay for the boy's sins
And I was lost when I was nine
Just like I'm lost now
Cause I'm here in this heaven
That's so expensive to buy
Now, the boy keeps my curl on the shelf
In the house that he grew up in
For my mom, and my friends
I'm Dear Jenny, and they miss me

sábado, 1 de maio de 2010

meu amor

Ah, não preciso não de metáforas para falar do meu amor. Meu amor tem uma linguagem própria e meu Amor me ouve, e me entende antes de eu dizer. Meu amor, eu amo, e amo até em silêncio. Meu amor e eu fomos passear.
Juntos vamos e um leva a mochila do outro.
E juntos sabemos que juntos chegamos.
De lá, mandaremos postais.

Do que eu não posso.

Você que nem mesmo me escreve propriamente, e me aparecem só seus bilhetes. Você, que nem mesmo se mostra, aparece em detalhes, em sorrisos falsos e olhares mortos. Você, que é frio e tosco, estragado por dentro de tanto tempo que ficou esquecido numa geladeira cheia. Você, esperto quem não come. Você, que nem mesmo é um homem. Ora, prefiro considerá-lo um bicho, pois o senhor para mim é assim um bicho homem, que nem pernas tem. Homem-cobra, você se esgueira e rasteja. Você, eu não posso.
Agora que entrou na minha casa e fez o seu estrago, espero que se retire, seja como homem, ou assim mesmo, como cobra. Pode sair sem me agradecer e nem olhar pra trás, que esse é o seu estilo.
Sei que é o que você queria, ó, criatura indefinida, mas não recebo você. Não vou tomar nada do seu veneno bobo, que se eu soubesse que ao menos servisse pra me dopar um pouco, mas não, olha que esse seu veneno é tão inútil, que nem mal faz ou engorda. Se você tivesse pernas, seu rabo saía entre elas. Aproveite então a falta delas e só saia mesmo, que eu vou arrumar minha casa.