terça-feira, 28 de julho de 2009

Eu quebrei a estátua de dragão.

Compramos uma bonita estátua de dragão. Vermelho, escamas com um tom de dourado, asas abertas, boca aberta, língua para fora, em cima da pedra. O dragão estava se apresentando, sem medo nenhum, desafiando a nós, pobres mortais. Garras afiadas e curvas.
Pois compramos. Éramos recém-casados. Eu achei que ficaria bem na sala de estar, na última prateleira.
Quando meu marido saía, eu notava como o dragão parecia estar me observando. Um dia jurei que tinha visto que a sua língua balançava como uma serpente. A princípio, não me importei. Coisa da minha cabeça.
Quando meu marido chegava, a vigília cessava.
...
Aconteceu que meu marido teve que viajar. À noite, sozinha, abri uma garrafa de vinho. O apartamento estava completamente em silêncio.
Um silvo violento quebrou a paz de tudo. Corri do nosso quarto para a sala: o dragão agora batia as asas. Me olhava. Bafo quente saía das suas narinas, infestava o ar. Fiquei tonta com o calor. Eu suava.

Joguei a estátua no chão. Um líquido transparente saiu das entranhas do bicho: eu não toquei, pois sabia que era veneno. Varri os restos. Levantei uma tábua no chão e o sepultei. Naquele dia, dormi tranquila.

No dia seguinte, porém, sonhei com o dragão. Eu montava nas suas costas e viajávamos, conhecendo as maravilhas do mundo. Em outro sonho, ele derretia gelo com seu bafo, pois eu tinha sede. No último encontro em sonho, eu era o dragão, o dragão era eu, e nós nos possuíamos.

Meu marido voltou pra casa e não me perguntou nada. Apenas olhou o lugar vazio e voltou a ler o seu jornal.
Fui eu que vi nos seus olhos a acusação.
Fui eu que novamente senti que a sala estava quente, muito quente, ardendo de um jeito que derreteria a nós todos, humanos.
Levantei a tábua.
Então eu gritei.

- FUI EU, FUI EU QUE QUEBREI O MALDITO DRAGÃO. AQUI ESTÁ, VEJA O ESQUELETO DELE, FUI EU. EU, SOZINHA, MATEI O MALDITO DRAGÃO.

Da minha voz saíam serpentes de fogo.

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