sexta-feira, 10 de julho de 2009

tema batido

Chamava-se Júlia, pois estamos em julho e esse parece um bom nome.
Tinha dezoito anos quando adormeceu. Um dia normal: chegou do cursinho e, como estava cansada, dormiu cedo. Nem trocou de roupa ou escovou os dentes. Dormiu com a roupa suada, apostilas na cama. A imagem do cansaço.
Quando acordou, tinha vinte e nove anos. Ao seu lado, um estranho. Costas peludas. Um tanto quanto repugnante.
Olhando-se no espelho, deu-se conta: uma ruga! Na beiradinha da boca. Algo de ruguez se pronunciava também perto dos olhos. Espere. Não só isso: nariz, olhos e boca... Tudo diferente. O cabelo. Cacheado?! E uma cor, castanho dourado com as raízes pretas.
Não. Não era ela. Era outra. O quarto, o barulho do ar condicionado. Um motel barato. Unhas pintadas de um vermelho berrante. O homem levantou-se, abraçou-a e perguntou
-O que foi, Rosa Ângela, não vai ao banco hoje? Te deixo lá.
Aliança no dedo gordo do homem.
Obedeceu. Foi ao banco. Viu que era bom: bastava obedecer.
....
Do outro lado da cidade, uma mulher chamada Rosa Ângela recém Júlia acordava cansada. Mas tinha uma vida nova toda pela frente.


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